Em Nova York, até os cones de trânsito serão ‘verdes’

por Andrea Vialli

Em breve, até os cones e placas de sinalização de trânsito de Nova York terão de ser ecológicos. E não só eles: também aparelhos de ar-condicionado, lavadoras de louça e de roupas, impressoras e outros bens de consumo. Até a grama dos parques e praças deverá ser escolhida por critérios ambientais.

É o que sinaliza um conjunto de 18 novas diretrizes verdes, lançado pelo Estado de Nova York, para orientar as compras públicas. Ou seja, cada compra realizada pelo poder público local terá que ter critérios verdes, como eficiência energética, uso de matéria-prima reciclada, redução no uso de componentes tóxicos e reciclagem. As impressoras, por exemplo, deverão ter o selo Energy Star e estar programadas para imprimir dos dois lados do papel. As placas de trânsito deverão ser alimentadas por energia solar, e os cones devem ser feitos de pelo menos 50% de matéria-prima reciclada.

O conjunto de normas ainda vai passar por apreciação pública. As medidas podem parecer exageradas, mas são um meio de o poder público avançar em sustentabilidade, e influenciar a indústria no desenvolvimento de tecnologias mais verdes e com menor consumo de energia.

Por aqui, existe uma ótima iniciativa, do Greenpeace: o programa Cidade Amiga da Amazônia, que estimula que as prefeituras só comprem madeira de origem certificada, de modo a não estimular o desmatamento ilegal. Fazem parte mais de 30 cidades, entre elas grandes capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Porto Alegre.

Os bancos ‘sustentáveis’ na berlinda

por Andrea Vialli

Verdade seja dita. Os bancos nunca gozaram de boa imagem e reputação no imaginário da população. E num País onde a taxa de juros beira a agiotagem, os lucros dos bancos sempre soaram descabidos – embora “dentro da legalidade”, como bem frisa o setor.

Os bancos também nunca se mostraram muito ‘pró-ativos’ (palavrinha da moda) quando o assunto é direito do consumidor. Até bem pouco tempo atrás, sequer respondiam ao Código de Defesa do Consumidor. A cobrança de tarifas era uma festa da uva, até que o Banco Central passou a estipular o pacote de serviços essenciais, que devem ser oferecidos gratuitamente.

E hoje o spread – diferença entre o custo de captação das instituições e a taxa que é aplicada ao cliente – virou motivo para uma briga ferrenha entre indústria e bancos, como mostrou o noticiário da semana.

Como se não bastasse, veio a crise. Uma crise que nasceu no âmago do capitalismo e se alastrou feito a peste negra por toda a economia mundial. Culpa dos bancos, da irresponsabilidade regulatória e da ausência da “mão invisível” do mercado, como quis Adam Smith.

Discurso
Sustentabilidade, que evoca a noção de perenidade, vem permeando o discurso das instituições bancários há pelo menos uma década. Iniciativas interessantes e bem-vindas, realmente estratégicas, começaram a aparecer. Fundos de investimentos éticos, os Princípios do Equador (que estipulam uma análise de rating socioambiental para grandes projetos), microcrédito produtivo e produtos financeiros atreladas a ONGs vinham crescendo e coroando, na prática o conceito de “finanças sustentáveis”. Pouco, é verdade, mas vinha acontecendo.

Com a crise, muda a perspectiva, afinal. “A estratégia agora é sobreviver”, me disse ontem Jodie Thorpe, que trabalha na consultoria britânica SustainAbility, uma das precursoras da aplicação do conceito triple bottom line nos negócios – no Brasil a convite justamente de um banco, o Itaú, que entregou seu primeiro prêmio de Finanças Sustentáveis, uma iniciativa para estimular mídia e academia a produzir conteúdo sobre o tema.

A bem da verdade, sustentabilidade sempre foi uma poderosa ferramenta de marketing para as empresas, e os bancos já deitaram e rolaram nisso. Um investimento fundamental para tentar apaziguar a imagem junto à opinião pública. “Agora, como ninguém sabe a duração da crise, as reais iniciativas dos bancos em direção à sustentabilidade, como o crédito ‘verde’ e o microcrédito ficaram nebulosas” , diz Jodie. Ela diz isso com propriedade. A SustainAbility assessora grandes bancos como o HSBC e o Rabobank, entre tantos outros.

Corre-se agora o risco de que as tão propaladas iniciativas de sustentabilidade dos bancos fiquem reduzidas a meras ações de filantropia pontual (travestida de comportamento sustentável) ou produtos financeiros de alta rentabilidade e pouca eficácia socioambiental.

Ou não? Nossos bancos, tão hábeis em reportar aos jornalistas seus programas nessa seara, ainda não vieram nos dizer o oposto.

O promissor mercado de tecnologias verdes

por Andrea Vialli

Sem muito alarde, o mercado das chamadas tecnologias verdes – como tratamento de água, gestão de resíduos e reciclagem e controle da poluição – está em franco crescimento e já movimenta a cifra de US$ 5 bilhões no Brasil, o que faz de nós o maior mercado de soluções ambientais da América Latina.

Tanto é que já existe um movimento forte de consolidação desse setor no Brasil. Empresas estão comprando suas concorrentes e criando verdadeiras ‘holdings’ de sustentabilidade, com apetite para crescer.

Um exemplo é o grupo Haztec, do Rio de Janeiro. Criada há dez anos por três recém-formados, a empresa começou prestando serviços de controle da poluição em postos de combustíveis. Evitavam, por exemplo, que o combustível vazasse para o lençol freático. Com o tempo, foram aumentando a oferta de serviços, até que chamaram a atenção de um grupo de private equity (que compram participações em empresas), o Synthesis, que em 2003 adquiriu o controle da empresa.

Até que em 2007 dois fundos de investimentos ligados apostaram no potencial de crescimento desse mercado ‘verde’. Com o aporte de recursos, a Haztec foi às compras. Adquiriu o controle de seis empresas em menos de dois anos e se tornou a maior companhia de serviços ambientais do País. Hoje oferecem soluções nas áreas de água, controle de poluição, gestão de resíduos industriais e lixo urbano, entre outras.

Poluir vira crime
Como lembra Marcos Ferreira, presidente da Haztec, “há dez anos atrás o mercado de tecnologias e serviços ambientais inexistia. Graças à Lei de Crimes Ambientais, que acenou com a possibilidade de aplicar multas de até R$ 50 milhões à empresas poluidoras, os negócios decolaram”. Mais informações no Estado de hoje, “Empresas criam holdings de serviços verdes”.

E para quem acha que sustentabilidade não é um bom negócio, vem aí a Ecogerma 2009. Será a maior feira realizada na América Latina de negócios e tecnologias ambientais, entre os dias 12 e 15 de março, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. O evento é uma iniciativa da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha e espera atrair 20 mil visitantes.

Em tempos de crise, os negócios ‘verdes’, tem sido saudados por muitos – inclusive por Barack Obama – como a grande panacéia dos novos tempos, para reerguer a velha economia moribunda.

Gordon Brown – Protecionismo é ruína

O primeiro-ministro britânico quer encontrar uma solução de consenso para a crise econômica e diz que todo mundo perde com o aumento de tarifas.

Duda Teixeira
Revista Veja 

“Quando os países atuam de forma unida, o impacto nos negócios e na confiança do consumidor é muito maior do que quando agem separadamente”

O primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown, foi um dos primeiros governantes a acusar a grandeza da crise econômica e carrega nos ombros a responsabilidade de ajudar a debelá-la. Ele é o articulador da Cúpula de Londres, que no próximo dia 2 reunirá os dirigentes das vinte maiores economias, representantes de 85% do PIB mundial. No encontro de um único dia, Brown pretende forjar uma ação conjunta para retomar o crescimento e a estabilidade econômica. Parlamentar trabalhista desde 1983, esse escocês de 58 anos assumiu o cargo de primeiro-ministro em junho de 2007, substituindo Tony Blair, de quem foi ministro das Finanças por dez anos. Enquanto se preparava para uma viagem a São Paulo, onde se encontrará com o presidente Lula, Brown deu a seguinte entrevista a VEJA.

O senhor tem advertido que a adoção de medidas protecionistas seria contraproducente no combate à crise econômica. Por que ações que visam a preservar empregos e fortalecer o mercado consumidor doméstico atrapalhariam a recuperação da economia global?
Considero incompreensível que alguns países possam ceder à tentação de recorrer a políticas que põem em primeiro lugar o interesse de suas empresas nacionais, produtoras e exportadoras. Isso pode ser muito perigoso. Estima-se que um aumento na aplicação de tarifas em todo o planeta poderia encolher o mercado mundial em 728 bilhões de dólares. Restringir importações ou subsidiar a produção nacional acaba por elevar as despesas para os consumidores e para quem paga impostos. Isso deixa a população com menos dinheiro para gastar na compra de bens e serviços. Devemos manter nosso compromisso com o livre mercado e continuar a trabalhar para concluir a Rodada Doha das negociações sobre a liberação do comércio mundial. Também precisamos nos esforçar para que a Organização Mundial do Comércio tenha um papel maior em monitorar e fortalecer os compromissos com o mercado. Em tempos de dificuldade econômica, argumentos protecionistas sempre voltam à tona, mas não podemos nos deixar levar por eles.

“Uma ideia em discussão é criar normas para garantir que, em todo o mundo, os bancos administrem melhor seu capital. Os mercados devem ser livres, mas não podem ser livres de valores éticos”

A crise econômica pode pôr em risco a integridade da União Europeia?
A situação tem demonstrado que os membros da União Europeia podem trabalhar juntos para atuar em harmonia e com impacto real na vida dos trabalhadores europeus, de suas famílias e nos seus negócios. Uma política conjunta da União Europeia promoveria também maior transparência na regulação dos serviços financeiros europeus e mundiais. Essa é uma questão crucial, uma vez que estamos todos empenhados em não deixar que a crise financeira atual se repita no futuro.

O que a Europa está fazendo para sair da crise?
A União Europeia tem um papel-chave a desempenhar nos preparativos para a Cúpula de Londres. Três meses atrás, os 27 países-membros do grupo concordaram em dar uma resposta coordenada à crise, agindo com rapidez para aumentar os gastos e acelerar as reformas. Trata-se, sobretudo, de ações nas áreas de educação, emprego, eficiência energética e infraestrutura digital. Esse tipo de política é crucial. Quando os países atuam de forma unida, o impacto nos negócios e na confiança do consumidor é muito maior do que quando agem separadamente.

O governo britânico gastou bilhões de libras para salvar os bancos nacionais. Medidas com perfil estatizante como essa sinalizariam o fracasso do capitalismo e do livre mercado?
Acredito firmemente que as economias baseadas no livre mercado oferecem melhorias reais no padrão de vida das pessoas. Seria um erro grosseiro desistir desse modelo apenas por causa da crise econômica. Os problemas com que estamos lidando, porém, podem reforçar a necessidade de uma regulação mais efetiva dos mercados financeiros para que consigam funcionar adequadamente e produzir crescimento econômico. Os mercados devem ser livres, mas não podem ser livres de valores éticos. O governo britânico interveio no setor bancário para garantir que ele continue a apoiar as famílias e os empresários. Os bancos têm de prover as fundações para que a economia possa crescer no futuro. Isso é algo com que o presidente Lula e eu concordamos firmemente, e devemos conversar sobre o assunto durante minha visita.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que estava esquecido, deveria ganhar mais poderes para auxiliar economias à beira da falência?
Todos os países estão sentindo os impactos da crise, e é necessário que eles possam contar com o FMI para estabilizar suas economias em dificuldades. Não usar esse instrumento seria impingir sofrimento desnecessário a seus habitantes e também pôr a todos em risco, pois os problemas econômicos hoje facilmente transbordam pelas fronteiras. Defendo um aumento substancial dos recursos do FMI, para que essa instituição esteja apta a apoiar todos os países que precisem de socorro.

Os bancos brasileiros estão menos expostos aos riscos que arruinaram instituições ao redor do mundo. As leis que regulam o sistema bancário brasileiro poderiam servir de modelo para o sistema europeu?
Uma das ideias que estão sendo discutidas atualmente é a criação de normas para garantir que os bancos em todo o mundo administrem melhor seu capital. Caso essa sugestão seja acatada, as instituições terão mais dinheiro em caixa em momentos de crise e, desse modo, serão capazes de despejar aos poucos essas reservas no mercado. Seria possível, assim, prevenir desabamentos no setor financeiro. Quebras, como as que vimos, comprometem os interesses das pessoas e de suas famílias, que podem não conseguir pagar ou pedir empréstimos. O Brasil, por outro lado, tem um grande, moderno, lucrativo e bem capitalizado setor bancário. Os bancos brasileiros têm conseguido um desempenho muito bom nos últimos meses, e não há dúvida de que podemos tirar lições desse modelo. Essa é uma das razões pelas quais convidamos o Brasil e outros países emergentes a se tornar membros do Fórum de Estabilidade Financeira, um espaço criado em 1999 para que diretores de bancos centrais, ministros e autoridades de órgãos internacionais troquem informações.

Estabelecer laços mais fortes com o Brasil e com países como a China e a Índia pode ajudar a Inglaterra e a Europa a sair mais rapidamente dessa crise?
Os problemas atuais afetam a economia mundial como um todo, não apenas países ou regiões. À medida que a crise se aprofundou, seus impactos se espalharam e contaminaram os emergentes também. Nenhuma nação está totalmente isolada de suas consequências. Assim, todos devem fazer sua parte para reformar e melhorar os sistemas internacionais. Muitos países já agiram para minimizar os impactos, mas há também políticas coordenadas que podem ser tomadas em conjunto pelos bancos centrais em relação às taxas de juro. Todas as nações que estarão na Cúpula de Londres têm um papel substancial a desempenhar no soerguimento da economia global e no fortalecimento do aparato financeiro.

“Preocupar-se com as mudanças climáticas é uma necessidade, não um luxo. Não é algo que podemos adiar até que a economia melhore. O investimento em tecnologia verde será a garantia de uma recuperação sustentável”

Medidas para reduzir as emissões de carbono na atmosfera e diminuir os efeitos do aquecimento global não se tornariam um peso a mais para a economia mundial?
Não seria melhor adiar esse tipo de política até que o mundo se livrasse dessa crise? Preocupar-se com as mudanças climáticas é uma necessidade, não um luxo. Não é algo que possa ser adiado até que as previsões econômicas se mostrem otimistas. Investimentos em negócios e tecnologias verdes serão a garantia de uma recuperação resistente e sustentável, pois não correríamos o risco de um renascimento dos elevados preços de energia. Essas medidas podem ainda criar empregos a curto e médio prazo. É de nosso total interesse, portanto, que o mundo ingresse em uma trajetória mais limpa de crescimento. Um passo importante para isso é traçar um ambicioso acordo global sobre mudanças climáticas no encontro em Copenhague, capital da Dinamarca, em dezembro deste ano.

As ameaças terroristas na Inglaterra e nos Estados Unidos parecem ter diminuído, enquanto os ataques dão a impressão de ter se transferido para países periféricos, como o Paquistão. Isso deve levar a uma mudança na estratégia de combate ao terror?
Embora a Inglaterra e os Estados Unidos não tenham sofrido ataques recentes de terroristas internacionais, nossas agências de segurança e de inteligência continuam rastreando a pista de inúmeras ameaças. Os últimos ataques contra turistas em Mumbai, na Índia, e contra a equipe de críquete do Sri Lanka em Lahore, no Paquistão, demonstram que a ameaça é grande e é preciso manter a vigilância. Nossa abordagem para combater o terrorismo deve ser abrangente. Em seu cerne, tem de incluir uma estratégia baseada na cooperação internacional entre as polícias e as forças de segurança. Devemos fazer esforços de grande amplitude para combater os extremistas, sem para isso abrir mão do respeito pelos direitos humanos fundamentais.

Como o senhor se define ideologicamente?
Sempre fui um progressista. Um membro do governo deve se perguntar a todo momento o que ainda pode fazer para melhorar a vida das pessoas comuns. Temos a obrigação de promover prosperidade e crescimento econômico e ao mesmo tempo construir uma sociedade mais justa. Quando deparamos com uma crise econômica como a atual, essa postura fica mais importante do que nunca. Se olharmos para o passado, para os momentos de instabilidade, veremos que foram os pobres, os idosos e os trabalhadores comuns que sempre pagaram o preço mais alto pelas crises. Eles são sempre a parte mais vulnerável. Nessa ocasião, temos o dever de pôr esses grupos em primeiro lugar e protegê-los dos piores e mais prolongados efeitos da crise.

Qual será o foco de suas conversas em São Paulo?
O Brasil é a décima economia do mundo e será um dos participantes da Cúpula de Londres, no dia 2 de abril. Esse evento reunirá os governantes das vinte maiores economias, que representam 85% do PIB mundial. Nesse único dia, teremos uma oportunidade vital para elaborar uma ação internacional com o objetivo de restaurar o crescimento e a estabilidade da economia. Em minha visita ao Brasil, vou conversar com o presidente Lula sobre as respostas que brasileiros e britânicos estão dando à crise e trocar ideias sobre políticas prioritárias que poderão entrar na agenda da reunião em Londres. Outra meta da visita é ampliar as excelentes relações de negócios que meu país mantém com o Brasil. Nunca tivemos tantas companhias brasileiras e britânicas comprando e vendendo produtos e serviços entre si. O comércio bilateral está crescendo muito rapidamente, em um ritmo sem paralelo com outros períodos históricos. Apenas no ano passado, nossas exportações aumentaram mais de 50%.

O senhor acompanha o futebol brasileiro?
O Brasil ocupa um lugar especial no coração dos torcedores de todo o planeta. Sempre fui um grande fã, dos tempos de Pelé e Jairzinho, do grande time de 1970, aos grandes nomes que hoje atuam no campeonato inglês e na Copa dos Campeões da Europa. A primeira Copa do Mundo a que assisti ao vivo foi na Espanha, em 1982, quando o Brasil enfrentou a Escócia na primeira fase. Claro, o Brasil venceu por 4 a 1, e realmente deveria ter ganho a Copa do Mundo naquele ano. O time de Sócrates, Zico e Falcão era magnífico. Nunca me esquecerei de vê-los ao vivo. O Brasil sempre jogou do jeito que deve ser jogado. Os atletas brasileiros são o que há de especial no futebol.

Empresa nacional investe menos em meio ambiente

por Andrea Vialli

As empresas brasileiras investem menos em meio ambiente do que a média internacional. Fora do Brasil, o setor privado investe cerca de 2% do seu faturamento em tecnologias sustentáveis. No Brasil, a maioria – 54 % das empresas – aporta até 1% das receitas em tecnologias. Em 27% das empresas, o total investido oscila entre 1% e 3% das receitas.

Os dados constam do estudo “Tecnologias Sustentáveis no Brasil”, realizado pela consultoria alemã Roland Berger com dois objetivos: o de mapear o tamanho da indústria ambiental no País, que inclui setores de saneamento, controle de poluição e energia limpa, entre outros; e de avaliar o interesse das companhias brasileiras em investir nessas tecnologias. Foram ouvidas 100 companhias de todos os portes no último trimestre de 2008.

De acordo com Thomas Kunze, coordenador do estudo, existe interesse das empresas para investir em melhorias ambientais. No entanto, elas esbarram em barreiras como o alto custo das tecnologias limpas e a falta de acesso a conhecimento técnico sobre o assunto.

“Para 32,5% das empresas pesquisadas, os custos das tecnologias ambientais ainda são incompatíveis com sua realidade”, afirma Kunze. Já o acesso ao crédito é um empecilho para 17,5% das companhias. Para 39% delas, a crise financeira é um fator de adiamento dos investimentos em sustentabilidade no biênio 2009-2010.

Setor ambiental vai crescer mais que automobilístico

O segmento de tecnologias ambientais movimenta US$ 16,9 bilhões no País e tem potencial para crescer 7% ao ano ano até 2020, quando deve alcançar uma receita de de US$ 25,4 bilhões. “O setor de sustentabilidade tem potencial de expansão maior que indústrias tradicionais, como automotiva e química”, avalia Thomas Timm, vice-presidente executivo da Câmara Brasil-Alemanha, que encomendou o estudo. Segundo ele, o Brasil já possui um indústria ambiental consistente. “Mas falta avançar em áreas como saneamento, água e gestão de resíduos.”

De fato: o Brasil possui apenas 51% dos domicílios coletados à rede de esgotos. Não se trata de tratamento, e sim de coleta. Europa e América do Norte, esse índice fica acima de 90%.

Vamos apagar as luzes HOJE as 20h30

A Hora do Planeta é um ato simbólico no qual governos, empresas e a população de todo o mundo são convidados a demonstrar sua preocupação com o aquecimento global e as mudanças climáticas. O gesto simples de apagar as luzes por sessenta minutos, possível em todos os lugares do planeta, tem o significado de chamar para uma reflexão sobre o tema ambiental.

Conhecido mundialmente como Earth Hour, a Hora do Planeta será promovida no País pela primeira vez pelo WWF-Brasil e conta com a adesão e apoio do Rio de Janeiro , a primeira cidade brasileira a aderir à iniciativa.

Em 2009, a Hora do Planeta será realizada no dia 28 de março, das 20h30 às 21h30, e pretende contar com a adesão de mais de mil cidades e 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Mais de 170 cidades de 62 países já confirmaram sua adesão à Hora do Planeta.

Realizada pela primeira vez em 2007, a Hora do Planeta contou com a participação de 2,2 milhões de moradores de Sidney, na Austrália. Já em 2008, o movimento contou com a participação de 50 milhões de pessoas, de 400 cidades em 35 países. Simultaneamente apagaram-se as luzes do Coliseu, em Roma, da ponte Golden Gate, em São Francisco e da Opera House, em Sidney, entre outros ícones mundiais.

Cadastre-se já no site Hora do Planeta e participe também deste movimento

A hora do Planeta

 

O que você pode fazer

Desligar as luzes por uma hora é um bom começo. Porém, existem muitas outras coisas que você pode fazer para contribuir para o sucesso do Earth Hour 2009.

  • Cadastre-se agora. Faça parte do Earth Hour e obtenha dicas e ferramentas úteis para reduzir a sua pegada de carbono todos os dias.
  • Informe um Amigo. Ainda melhor – fale com eles, sua família e até seus colegas de trabalho. Incentive-os a se cadastrarem. Mande-lhes um e-mail com um link para este website e mobilize mais pessoas!
  • Conte a Sua História: A Rede WWF está colecionando histórias sobre como as mudanças climáticas vêm modificando a vida das pessoas. Visite a página Testemunhas do Clima e deixe seu depoimento em português ou em inglês.

 

A Noruega é mesmo tão verde?

Por Ana Luiza Herzog

À primeira vista, a Noruega teria todos os atributos para ser o paraíso dos ambientalistas na Terra. Lá, altas taxas de impostos incidem sobre carros e petróleo. O sistema de transporte público – formado por trens, balsas e ônibus – é um brinco, funciona maravilhosamente bem e cobre todo o país. Não faltam ciclovias e, ainda assim, o governo está prometendo dobrar o volume de verbas de transporte público para aquelas cidades que encontrarem boas maneiras de coibir ainda mais o tráfego de veículos. Quer mais? Embora a matriz energética do país seja limpa – o grosso da eletricidade consumida no país vem de hidrelétricas – o governo se esforça para incentivar o desenvolvimento de outras fontes renováveis, além da melhoria constante da eficiência energética. E, por isso, os prédios comerciais estão sendo submetidos a controles cada vez mais rígidos. Consumidores e empresas estão sendo incentivados a queimar madeira e outras formas de biomassa para obter energia – em vez de usar combustíveis fósseis. Há ainda uma diretriz governamental para que sempre se construam pontes no país, em vez de túneis. Isso por que, supostamente, os veículos consomem menos combustível para atravessá-las. Túneis também demandam sistemas de iluminação e de ventilação mais caros e que, obviamente consomem mais energia. Bem, eu podia gastar ainda mais uma boa dezena de linhas descrevendo práticas e políticas verdes implementadas no país …

Perfeito, não? O que uma reportagem bem legal da última edição da revista inglesa The Economist mostra, porém, é que a política verde da Noruega esconde uma série de contradições. A mais gritante delas é a de que o país ostenta o título de quarto maior exportador de petróleo do mundo. E é, em parte, com a grana absurda que arrecada com a venda desse recurso que ele pretende comprar créditos de carbono no mercado internacional para compensar parte de suas emissões e se auto-intitular carbono-neutro até 2030 (já que não conseguirá eliminar todas elas …).

Fatos como esse tiram o sono dos ambientalistas do país, que pregam que a Noruega seria verde de fato – e um exemplo notável para o resto do mundo – se reduzisse a exploração e a exportação de petróleo. Já os críticos ao atual governo – e a reportagem mostram que eles são muitos – acham que a Noruega simplesmente deveria inventar menos moda e, definitivamente, ter mais estradas e menos ciclovias …
É gente, eu nunca disse que ajudar a melhorar a situação do planeta era algo fácil … e a reportagem mostra bem isso .. leiam!

Sobre o projeto de Lei que substituirá a Lei Rouanet

Estamos unidos pela luta pela NÃO revogação da Lei Rouanet.

Como esse blog está empenhado na campanha pela Hora do Planeta, amanhã as 20h30, as opiniões e notícias a respeito da reforma só serão publicadas a partir de segunda-feira.

Por que aderir à Hora do Planeta

Por Carolina Derivi

Vocês devem ter ouvido falar. O WWF está agitando um movimento global de apagar as luzes, no sábado. Se alguém aí ainda coça a cabeça imaginando se um gesto bobo desse tem alguma serventia nessa vida, estou aqui para convencê-lo.

Eu sei que você se sente um pouco ridículo diante da ideia de se apartar dos amados equipamentos eletrônicos da sua casa, durante a imensidão de uma hora, justamente no horário em que você está em casa e quer se distrair, tudo em nome de um ato simbólico que começou do outro lado do mundo e provavelmente não vai ter efeito nenhum e o sol vai nascer igual no dia seguinte.Eu sei disso tudo, não tenta negar, não. O caso é que você é vítima de um fenômeno que a psicologia e a sociologia chamam de “ignorância pluralística”. É a famosa sensação de ser o único. Os indivíduos humanos têm grande dificuldade em se mexer quando não sentem que o resto do mundo segue a mesma direção, ou pelo menos as outras pessoas no mundinho que os cerca.

A ironia é o equívoco. Com certeza você não era ao único que queria xingar o folgado que furou a fila do cinema, mas como as outras pessoas também acharam que ninguém se importou, então ninguém fez nada.  E a humanidade caminha a passos de formiga.

O jeito de acabar com isso é com fatos. Se você desligar as luzes da sua sala às 20:30 do dia 28 de março, não estará sozinho. Mais de 40 cidades brasileiras, e mais de mil no mundo, vão apagar as luzes de seus principais monumentos, prédios, praças etc. A orla de Copacabana, por exemplo, vai ficar no escuro (e com policiamento redobrado).  Até o Google (!)  Deve tornar a sua página de busca temporariamente preta (foi o que fizeram em 2008, não consegui descobrir se vão repetir o gesto esse ano).

Tudo bem que você pode até ser curado da ignorância pluralística, mas não é Maria-vai-com-as-outras… E daí que todo mundo vai aderir?  Por que você deve aderir?

Porque estamos em 2009. E 2009 é um ano chave. Em dezembro, um monte engravatados do mundo inteiro vão se reunir na Dinamarca para decidir, simplesmente, o futuro da humanidade. É dessa reunião que vai sair a decisão sobre qual será o acordo global pós Kyoto. E tem que sair. Mais um adiamento seria catastrófico para o ritmo dos investimentos que já estão sendo feitos em tecnologia, regulamentação, pesquisa e por aí vai. Esses caras precisam sentir que o resto do planeta está prestando atenção neles e quer soluções já.

Se algum dia você já teve vontade de fazer parte de alguma coisa importante, saiba que essa é a mãe de todas as coisas importantes que existem ou já existiram. Faça parte.

A lengalenga do fim da sustentabilidade

Por Ana Luiza Herzog | 18/02/2009 – 15:50

A lengalenga de que a crise financeira deve jogar por terra as estratégias de sustentabilidade das empresas aparece, vai embora, aparece, vai embora… sorte é que, com bastante freqüência, aparecem também bons artigos explicando porque a sustentabilidade, a despeito da crise, e ainda mais depois da crise, tornou-se uma questão crucial para as empresas. Um deles saiu recentemente no Financial Times e é de autoria de Daniel Vermeer e Robert Clemen, dois professores da Duke University, nos Estados Unidos. Vou reproduzir aqui o que achei mais legal do que eles disseram sobre os princípios que devem sobreviver à crise – e de que maneira:

– A desaceleração na economia vai forçar as empresas a tornar seus esforços em prol da sustentabilidade mais robustos, estratégicos. Em contrapartida, ações de cunho mais filantrópico, ligados à responsabilidade corporativa mais tradicional irão mesmo perder fôlego

– A crise explicita ainda mais a necessidade das empresas fortalecerem suas estruturas de governança corporativa, uma vez que a imagem de muitas delas está queimada. E não se trata de simplesmente cumprir a lei. Segundo os autores, as empresas terão de incorporar procedimentos mais transparentes de tomada de decisão e de relato das mesmas – caso contrário, passarão a ter problemas com seus stakeholders
 
E quanto à ecoeficiência?

As empresas há muito perceberam que azeitar processos fabris para produzir mais, usando menos recursos e matérias-primas é sinônimo de economia e, consequentemente, de um balanço financeiro mais saudável. A questão é que, muitas vezes, essas melhorias nos processos produtivos demandam, sim, investimentos vultosos. E definitivamente … eles não serão feitos agora. Ou seja, empresas que não descobriram ainda as benesses da ecoeficiência têm tudo para entrar na onda agora e conseguir bons resultados sem grandes desembolsos, fazendo coisas simples … reaproveitando a água usada num processo nobre aqui num outro menos importante ali, vendendo um sub-produto que antes ia para o aterro sanitário para uma outra empresa, queimando um outro sub-produto para gerar energia … Já as empresas que abraçaram a causa há mais tempo e já fizeram o que descrevi acima e muito mais, não se mexerão agora para comprar aquela nova máquina que consome metade da energia que a atual. Esse salto terá de esperar. Além do quê, lembram os autores, sejamos realistas: com os preços de commodites como petróleo, carvão e gás natural em baixa, o sex appeal da ecoeficiência diminuiu bastante … infelizmente.

 

E os produtos verdes?

Os consumidores continuarão a se empolgar com eles. Menos, porém, com itens muito caros, como um carro híbrido, e mais com produtos mais baratos e que ofereçam benefícios mais imediatos, tais como uma lâmpada fluorescente ou um alimento orgânico. Isso significa que os grandes varejistas, tais como Wal-Mart e Tesco, não devem amenizar as pressões para que seus fornecedores fiquem verdes. Afinal, mesmo com a crise, não vamos parar de procurar por esses produtos nas prateleiras. 

O Brasil vai apagar as luzes

Até agora, 36 cidades brasileiras aderiram ao movimento organizado pelo WWF que já mobiliza mais de dois mil municípios

Thays Prado
Planeta Sustentável 

No dia 28 de março, às 20h30 locais, 36 cidades brasileiras se comprometeram a apagar as luzes de seus principais monumentos, por uma hora, como forma de manifestar sua adesão à Hora do Planeta. Este é o primeiro ano em que o Brasil participa oficialmente do movimento.

Entre as cidades que já aderiram à causa estão Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Curitiba e Castro Alves, na Bahia. Além delas, o estado do Amazonas e, no estado de São Paulo, a capital paulista e as cidades de Taubaté, Capela do Alto, Lorena, Osasco, Peruíbe, Tarumã, Penápolis, e Votorantim. 

O movimento organizado pelo WWF em 2007, em Sidney, na Austrália, para chamar a atenção das pessoas para o problema das mudanças climáticas ganhou o mundo. Em 2008, 371 cidades de 35 países fizeram a sua Hora do Planeta e, este ano, já são mais de 2.000 cidades inscritas em 81 países! 

Ao passar uma hora com as luzes apagadas, a intenção não é exatamente economizar energia, mas participar de um ato simbólico – e universal – de engajamento diante de uma questão que afeta a todos os habitantes do planeta. Trata-se de um convite para repensarmos nossos hábitos de consumo e os impactos que causamos sobre o meio ambiente. 

No caso do Brasil, que vem sujando cada vez mais sua matriz energética com a construção de termelétricas e o uso de combustíveis fósseis, fica o estímulo para refletirmos sobre que preço estamos dispostos a pagar por irmos na direção contrária à do desenvolvimento sustentável e da economia de baixo carbono. Ainda vale se lembrar do desmatamento da Amazônia – responsável por cerca de 70% das nossas emissões de gases de efeito estufa – que, por mais que nos pareça distante, é financiado pelo consumo irresponsável do restante do país. 

Felizmente, o assunto parece começar a fazer sentido para cada vez mais pessoas. Sinal disso é que até times de futebol estão comprando a ideia. No dia 28, o estádio João Avelange, o Engenhão, no Rio de Janeiro, vai exibir o vídeo oficial da Hora do Planeta para a torcida flamenguista, que também será transmitido no site do Flamengo e no YouTube. Já no Morumbi, em São Paulo, o torcedor, seja do São Paulo ou do Palmeiras, vai acompanhar o placar do jogo através de um banner do movimento. O fim da partida será marcado pelo apagar das luzes do estádio e o site sãopaulino vai ficar fora do ar durante os 60 minutos de mobilização no Brasil. 

Apague as luzes você também!

São Paulo se junta à Hora do Planeta

São Paulo confirmou sua participação na Hora do Planeta 2009. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, assinou o termo de adesão na sede da prefeitura paulistana, nesta segunda-feira (23/03), em solenidade com a presença do presidente do Conselho Diretor do WWF-Brasil, Álvaro de Souza.

Na ocasião foi anunciado o apagar das luzes da Ponte Estaiada, Monumento às Bandeiras, Viaduto do Chá, Estádio do Pacaembu, Teatro Municipal, Obelisco e Parque do Ibirapuera.

“São Paulo participa pela primeira vez da Hora do Planeta por que o movimento é uma oportunidade de alertar as pessoas sobre a importância da conservação da natureza, do uso sustentável dos recursos naturais e do uso de energias limpas. É um evento de simbolismo, solidariedade e, principalmente, preocupação contra o aquecimento global”, afirmou Gilberto Kassab, Prefeito de São Paulo.

“Ao aderir à Hora do Planeta, mesmo num momento de crise econômica global, São Paulo mostra que o centro financeiro do país também está preocupado com a questão ambiental”, afirmou Álvaro de Souza. “Afinal, as soluções para estes dois desafios atuais devem andar juntas”, finalizou.

Além dos monumentos públicos, instituições da cidade como o Edifício Copan, o Instituto Butantan e o MAM (Museu de Arte Moderna) já anunciaram a sua participação na Hora do Planeta e apagarão as suas luzes externas no próximo dia 28 de março, bem como prédios comerciais como World Trade Center, o Sheraton Hotel e a sede da Vivo, todos na região da avenida Berrini.

Essas adesões foram conquistadas graças ao emprenho de parceiros como o São Paulo Convention & Visitors Bureau, o Movimento Nossa São Paulo, a Associação Viva Centro e a Associação Paulista Viva, além da participação de empresas como Rede de Hotéis Sol Melia, Vivo, HSBC, DuPont e Coca-Cola Brasil.

No dia 28 de março, durante a Hora do Planeta, haverá um encontro aberto ao público, promovido pelo WWF-Brasil e Grupo Abril na Praça Victor Civita, em Pinheiros (Rua do Sumidouro 580). O evento, com entrada franca, terá apresentação artística com dança e música acústica e abrigará o ato simbólico do apagar das luzes de São Paulo. A iluminação externa do prédio do Grupo Abril também será apagada.

Em São Paulo, a Hora do Planeta está contando com ampla divulgação por meio da Rádio Eldorado FM (92,9) – a rádio oficial da Hora do Planeta. Além da cobertura completa no sábado 28 de março, a Eldorado FM está veiculando spots especiais durante a sua programação chamando os ouvintes a apagarem suas luzes. A iluminação externa da sede do Grupo Estado, na Marginal Tietê, também será apagada.

A depressão é um sintoma da vida veloz demais

Por Ana Paula Sousa

O tempo que corre rápido e a idéia de que é preciso estar sempre alegre podem estar na origem de um dos grandes males do século XXI: a depressão.

A partir de casos que chegaram ao seu consultório e de reflexões históricas, a psicanalista Maria Rita Kehl levantou a hipótese de que a depressão é, sim, um sintoma social.

No livro “O Tempo e o Cão” (editora Boitempo), que chega esta semana às livrarias, ela pondera:

– Os depressivos, além de se sentirem na contramão de seu tempo, vêem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social de sua tristeza

Para Maria Rita Kehl, numa sociedade que “aposta na euforia como valor”, a tristeza e o desânimo tendem a ser vistos como patologia, como um comportamento a ser corrigido – de preferência, com remédios.

A psicanalista me recebeu em seu consultório, no bairro de Perdizes, em São Paulo, para esta entrevista que toca em alguns das reflexões presentes no livro.

Você diz que a depressão, hoje, é semelhante ao que era a histeria século XIX. Quer dizer que a tristeza é tão mal aceita hoje quanto era o comportamento feminino não recatado?

Quando falo de sintoma, não me refiro a dados estatísticos. Mas por que podemos pensar a histeria, no século XIX, como sintoma social?

Porque, nas regras de convívio e da moral desse período, o lugar da mulher estava claramente delimitado: a mulher que casa virgem, é fiel ao marido, cuida dos filhos, vive dentro de casa.

A histeria se torna sintoma social quando os médicos começam a receber, nos consultórios, mulheres que tinham convulsões, cegueiras e paralisias sem que nada fosse constatado no exame clínico.

Sempre houve e sempre haverá histéricas, mas, naquele momento, aquele comportamento enigmático causou um ruído por ser algo oposto à imagem da mulher serena, recatada, contida na sua expressão.

As histéricas rasgavam a fantasia e sinalizavam que havia alguma coisa errada.

E por que os deprimidos são o sintoma social deste início do século XXI?

Se você pensar nos parâmetros da sociedade contemporânea, é possível dizer que se trata de uma sociedade anti-depressiva.

É uma sociedade, aparentemente, com muita liberdade de escolha: como você quer viver, seu estilo de vida, como você vai se vestir, que tribo vai frequentar, o que vai comer, beber.

Há muita liberdade no plano superficial, no plano da festa. Existe muito apelo para a diversão.

Em contraste com o século XIX, em que o apelo era para contenção, sobriedade, repressão da sexualidade, hoje, a moral social é uma moral da diversão, não do sacrifício.

É uma moral que chama para aquilo que, na psicanálise, chamamos de gozo. É mais do que o prazer, é o excesso.

A rave não é, de alguma maneira, o símbolo disso tudo?

E para aguentar uma rave você é obrigado, inclusive, a tomar uma química. O apelo social não é para você aguentar o trabalho, mas a festa. Claro que a festa é ótima. Mas o que digo é que ela foi transformada no ideal social deste momento.

E o deprimido destoa radicalmente desse ideal.

Sim, porque esta é a única sociedade em que as pessoas ficam infelizes por se sentirem culpadas de não estarem tão felizes quando deveriam. Se alguém está triste, o que é natural na vida, essa cobrança social duplica a infelicidade.

O depressivo é sintoma social porque ele é aquele que não consegue aceitar o convite tão sedutor para estar sempre de bem com a vida. Mas esse é apenas um dos paradoxos. O outro diz respeito ao uso excessivo de medicação.

Seria o paradoxo do aumento do consumo de anti-depressivos e, ao mesmo tempo, do número de deprimidos?

A partir da década de 1980, a indústria farmacêutica começa a desenvolver anti-depressivos muito sofisticados. Era de se esperar que, com a oferta de soluções medicamentosas, o número de depressivos caísse. Em vez de cair, só aumenta.

Você pode até dizer que isso acontece porque, havendo remédio, mais gente procura os médicos. Mas isso não explica um salto de 50%.

Essa é uma das razões pelas quais esse tema começa a preocupar os psicanalistas. A psicanálise tem que começar a pensar na depressão, que passou muito tempo sendo tratada apenas por psiquiatras.

Do contrário, estaremos condenando essas pessoas que se dizem depressivas a só se tratar com remédios.

Mas o remédio, em muitos casos, é a única saída, não?

Claro, e não se trata de pôr um campo contra o outro. Muitos depressivos precisam de medicação até para conseguir sair da cama, pegar um ônibus e vir para a consulta.

Não é uma cruzada contra o anti-depressivo, mas um contra a medicalização indiscriminada.

Por pressão dos laboratórios, os médicos começam a dar anti-depressivo para qualquer coisa: falta de apetite, stress, problemas no trabalho, mau humor.

Qual a conseqüência disso?

Muitas vezes eu recebo pacientes, aqui no consultório, ou numa escola do MST em que atendo pessoas de baixa renda, que já chegam se dizendo deprimidos. Esse é diagnóstico do século.

Aí você descobre que aquela pessoa não é deprimida, ela apenas não se recuperou de uma perda qualquer.

Há casos de gente que passa a vida tomando remédio sem precisar. E o anti-depressivo produz uma certa acomodação, um esvaziamento psíquico.

Psicanaliticamente, como pode ser definido um depressivo?

O depressivo recua para não ter de enfrentar conflito. E o conflito é o centro da vida psíquica. Não é que você tenha que viver em conflito, não saber o que quer, mas a vida psíquica exige constantes enfrentamentos entre o vetor do desejo e o do super-ego, que diz “isso não pode”.

O depressivo tende a recuar diante da necessidade de fazer escolhas e a não enfrentar os desafios da vida.

Você fala, no livro, que o depressivo tende a ser visto como “o portador de más notícias”. Voltando ao caráter social da depressão, o quanto essas característica são agravadas hoje?

O senso comum imagina que fulano não sai da cama porque está deprimido. Estou propondo inverter um pouco a lógica.

Fulano está deprimido porque não sai da cama, não sai do quarto, não sai de casa. Ou seja, primeiro o sujeito recua e, em consequência desse recuo, ele se deprime.

Qual o papel da tecnologia nisso tudo? Ela agrava o isolamento?

A tecnologia propicia muitas relações, mas sem a presença corporal. E a pulsão vital do homem só se mobiliza diante do outro corpo.

Se ficar apenas mandando mensagens ou e-mails, você pode ficar num estado de esfriamento. Não é falar mal da tecnologia, mas ela não pode substituir o presencial.

Mas o que mais chama a minha atenção é o ritmo veloz que a tecnologia imprime à vida, a velocidade com a qual ela te solicita. A internet, o celular, o trânsito te solicitam sem parar.

Quando você dirige um carro na marginal, você não pode parar de responder a estímulos externos.

A imagem do motorista na auto-pista é uma espécie de metáfora do sujeito contemporâneo.

Ele não pode ficar para trás, não pode diminuir a velocidade e tem de estar atento a todos perigos e solicitações, numa permanente rivalidade com o outro.

A falta de tempo pode levar à depressão?

O psiquismo tem toda uma delicadeza. O homem é capaz de suportar tudo, mas as adaptações têm um preço.

A adaptação à velocidade contemporânea, que atropela os processos psíquicos mais delicados, da memória, do devaneio, da fantasia, da chamada vida interior, pode ter como preço a depressão.

A velocidade cria um vazio, e não um preenchimento. Pense numa semana em que você correu muito. A gente olha e parece que não aconteceu nada, parece que só o tempo voou por cima da gente.

O que eu fiz do meu tempo? Nada, só respondi a estímulos, a demandas, e aí vem o sentimento de desvalorização da vida.

Que participação a mídia tem nisso?

A mídia e a publicidade são o arauto dessa ideologia. A publicidade tem de ser analisada. Que mensagem a publicidade vende? Seja um campeão, seja feliz, os outros que se danem. Como diz o (jornalista) Eugênio Bucci, a publicidade vende, sobretudo, a exclusão.

E como preservar nossa vida psíquica?

O Antonio Candido, na inauguração de uma biblioteca do MST, disse: tempo não é dinheiro, essa é uma barbaridade que o capitalismo nos impõe. O tempo é o tecido da vida.

Essa foi uma das sementes do livro. É uma brutalidade eu pensar que tenho de fazer, sempre, o meu tempo render dinheiro.

Vamos ver o que estamos fazendo com o tecido da vida, porque ele esgarça, ele rasga, perde a cor, fica fragilizado.

Você consome mais entretenimento na crise? A indústria aposta que sim

Por Ana Paula Sousa

São todos ladeira abaixo os índices econômicos que nos chegam nestes tempos de crise mundial. Todos, não. Quase todos.

Começam a pipocar, aqui e ali, rojões em torno da crise. Muitos deles disparados pela indústria do entretenimento.

O New York Times noticiou que, desde que explodiu a crise nos Estados Unidos, a venda de games cresceu 20% no País.De acordo com o jornal, os jogos, pelas mil possibilidades que oferecem, estariam ocupando o espaço de outras formas de entretenimento mais dispendiosas – de parques de diversões a cinema.

Na Inglaterra, a onda é falar do sucesso da temporada dos musicais.

O Jornal Hoje, da Rede Globo, repercutiu ontem o assunto com uma reportagem que dizia estarem esgotados os ingressos para inúmeros espetáculos.

Priscila, a Rainha do Deserto, por exemplo, vendeu todos os ingressos da temporada antes mesmo de estrear.No Brasil, a crise também é a esperança para um negócio que, nos últimos dois anos, encolheu cerca de 40%: o aluguel de DVDs.

Em decorrência da pirataria, do download e da própria da Internet, que consome parte do tempo dedicado ao lazer, muitas locadoras viram os clientes sumir. Há quem aposte que, agora, uma parcela deles voltará.

A unir todos esses casos, estão algumas justificativas.

A crise, seja pelos efeitos psicológicos, seja pelos efeitos práticos, tende a fazer com que as pessoas cortem os gastos altos e supérfluos.

Pois, entre os mais abastados, no lugar de uma viagem no final de semana, entraria, por exemplo, uma ida ao teatro.

Entre os mais econômicos, uma saída para jantar poderia ceder lugar a uma pizza no sofá, acompanhada de um DVD.

Será mesmo?